terça-feira, 27 de setembro de 2011

Só se for a dois- Cazuza

Culpa


       Quando falo que não tenho pecados, incomodo muitas pessoas.
       Não tenho pecados, não estou devendo nada, e tenho muito mais medo de ir para um inferno feito por mim do que fabricado por minha Deusa. 
       Todos os animais possuem limitações e o animal humano também. Querer pecar é prepotência humana. De onde imaginamos que seres que são apenas pontinhos na existência podem ultrajar Deus? Só podemos fazer mal a nós mesmos. O próprio meio ambiente resistirá a nós e a nossos pecados, mesmo que modificado. A Grande Mãe nos engole antes que a destruamos.  A marca do pecado não passa de controle de comportamento. No lugar de ter uma lista de pecados dos quais se afastar, as pessoas deveriam exercitar seu bom senso.
       Quando digo que não tenho pecado, perturbam-me em coro: “Então você é perfeita?”
Claro que não, eu erro toda hora. Á diferença do pecado, depois do erro não sinto culpa. Me compreendo como ser limitado, e sei que a Deusa me entende também. Ela não vai me punir por limitações que são naturais da minha espécie.
       Ao mesmo tempo que deu limitações aos animais, deu capacidade de evolução. Assim, o morcego é cego, mas tem um perfeito sonar.
       Evolução tem a ver com sabedoria animal, com sobrevivência, com ficar mais tempo no planeta, sem ser extinto.
       Então prefiro me apegar a minha capacidade infinita de evoluir do que a minha capacidade infinita de errar. Desta forma, o superar-se é natural, todos estamos equipados com esse ímpeto e o sistema de culpas se mostra obsoleto. Este sistema só conseguiu entregar poder à alguns detentores de alívios.
       Ouço dizer que todos possuem pecados, que ninguém está livre deles. Depois me falam que morreram por meus pecados. Aff, vocês fizeram sacrifício humano e ainda assim não estamos livres de tanta danação??? Nunca conseguem me explicar isso muito bem...
       Nós seres Humanos somos simbolicamente construídos. Através da linguagem é que formamos nosso mundo interior. Para se sustentar uma cultura com uma dicotomia que vai a todo tempo contra nossa complexidade, é preciso inserir a culpa. É uma cerca mental a favor da sua alienação. E você mesmo reforça e fortifica. E se for esse mesmo o sistema de punição divino, com céu, inferno e pecado, vou ter que rir muito, pois até eu consigo ser mais criativa que Deus.
       Não tenho pecados!!!! E estou comprometida com meu enriquecimento pessoal. É o contrário do que muitos pensam. Não é a culpa e o medo que garantem a harmonia da sobrevivência em grupo. Podemos ser mais refinados e sofisticados e buscar o bom senso e a responsabilidade.    

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ostara

Dia de Amar seu Corpo 21/10



 É incrivel a sabedoria da natureza. Em Brasília, até dia 23/09, primeiro dia de primavera, ainda não caiu uma única gota d’água, e as plantas já sabem que ela chegou. Os animais já comemoram em cio, mesmo maltratados pela seca e pela fumaça.
       Amo os tapetes de ipês da minha cidade, que agora fazem belíssimos quebra-cabeças.  Tenho uma planta que está comigo desde o outono e eu a chamo de Carmelita. Ela é bem rechonchuda e aquática, e me surpreendeu quando exibiu uma florzinha amarela. Não havia mostrado nunca nenhum sinal de que algum dia iria florir, mas na primavera, todas saem com sua melhor roupa, e ela me surpreendeu! Quer melhor símbolo para o fim do inverno e todas as suas dificuldades do que as flores?
       Algumas pessoas são contra colhe-las,  mas eu acho que é uma pena termos perdido este hábito. Quando colhemos flores, nos inundamos com seu perfume, sua energia, nosso dia fica simbolicamente melhor. Acredito que, assim como precisamos da energia dos frutos, precisamos da energia delas.
       Para o ritual de Ostara, colhi um belo cesto de flores, com o cuidado de escolher aquelas que nascem de muitas, e deixando sementes em cada arbusto ou árvore como gratidão. Ostara vem de Ostera ou Eostre, nome de uma Deusa da fertilidade e da Primavera germânica,cujos símbolos são o ovo e a Lebre. Os ritos cristãos da páscoa se derivam do culto a esta Deusa que, no hemisfério norte, é cultuada em meados de março.
       Me vesti  também com minha melhor roupa e dancei minha melhor dança. Como a Blogagem coletiva propõe, para o dia 21/10, o dia do amor ao corpo, decidi fazer um ritual de comunicação com meu corpo.
       Um fator fundamental a se adquirir com fluidez quando se ama alguém é a comunicação. Através dela entendemos universos não evidentes. Comunicar-se com o meu corpo é um gesto de amor que acho muito importante. Conhecer minhas cicatrizes, onde dói, onde é só mau humor, as fontes de prazer e cócegas.
       O corpo é cheio de sensações, muitas vezes desconhecemos seu potencial. É um pouco confuso distinguir dentro de nós o limite entre uma sensação e outra. É cheio de alarmes súbitos e pode responder contra a nossa vontade. Fala como um tagarela! Com poros eriçados, soluços, vontades loucas de sair correndo, e algumas dores providenciais.
Uma forma que o corpo tem de ficar grato é com a beleza. Não falo de nenhum padrão, falo de ser primaveril. Vigor, brilho nos olhos, postura... são adornos do corpo bem cuidado, quando temos uma boa comunicação com ele. Mesmo não fazendo tudo certinho, não sendo uma pessoa super saudável, já que muitas vezes somos nós os piores inimigos dos nossos corpos. Para ter aquela beleza que fica, é importante pensamentos com mais paisagens, se livrar de umas culpas, usar a lente que vê o espetáculo diário. Uma sessão de risada pode te deixar mais bonito do que uma cirurgia plástica. Preocupação e insegurança é que deixa a gente feio...
       E fiz orações de um desejo profundo, para que a humanidade acompanhe mais esta estação, doe-se mais a seus cios, busque o prazer estético, as cores, os cheiros, os calores úmidos da primavera. Que tal usar a primavera para desembolsar aquele charme à mais esquecido? Para decorar a casa com mais cores?  Para namorar um pouquinho mais? Vamos entrar em consonância com a natureza!  
      
        

sábado, 17 de setembro de 2011

Sons de Gaia

Sekhmet


       As emoções andam por vias diferentes da razão. Você não precisa de muita explicação real para entrar no frenesi de uma emoção. O que te leva a ficar verdadeiramente alegre pode não passar de fantasia sua. Com a raiva não é diferente. Sem controle intencional, ela te domina, te cega.
       Sekhmet, agressiva Deusa Egípcia da guerra é bom exemplo disso. Ela vem cumprir uma missão que sequer era sua: matar os seres humanos que desobedeciam Rá. Porém, após passar pela porta da ira, não soube onde parar. Cegou-se e matou quase toda a humanidade, parando apenas após ser embebedada com uma mistura semelhante a sangue.
       A raiva já foi considerada uma emoção que precisava ser evitada e reprimida. A pessoa de melhor índole era aquela que não sentia (ou não demonstrava) este sentimento. Depois, sua importância foi reiterada, e ela passou a ter seu lugar ao sol, como emoção útil nas defesas. Uma pessoa sem raiva é considerada fácil de ser passada pra trás, ingênua, permissiva.
       Mas é uma emoção, e tem que ser usada com parcimônia. As emoções devem ser usadas em doses, aliadas às nossas outras funções, como a razão e a percepção. Se nos deixamos levar por um excesso de alegria, ou se nos permitimos um estado profundo de tristeza, não agimos na integridade de nós mesmas. As emoções, quando nos tomam, podem nos deixar em certo estado de torpor. Com a raiva é o mesmo.
       Qual dose é essa de raiva, que me permite ser justa comigo e com a situação real? Como posso não me tornar, nem uma ranzinza, que cospe veneno por qualquer coisa, e nem uma vítima passiva?
       Em primeiro lugar, deve-se fazer a pergunta que Sekhmet não se fez: “essa guerra é minha?”
       Me parece muito óbvio que, de repente, aflore um bisão bufante de dentro da pessoa mais calma, que assumiu um trabalho hercúleo, que bem pode ser dividido por mais pessoas. Ou aquela pessoa amarga que passou a vida fazendo um trabalho, tendo aptidão para outro. Ou mesmo aquela pessoa que não perde a chance de menosprezar o outro por jamais ter descoberto pra quê serve a própria vida.  Pode parecer simples e óbvio, mas esconde uma das maiores dificuldades da vida, e um dos maiores segredos da felicidade também: Saber qual é sua função no mundo e, principalmente, qual NÃO é.
       Em segundo lugar, devemos olhar bem pra a raiva que sentimos, de onde vem, para onde vai. Não adianta odiar a vida por causa do chefe, e descontar na mulher. Nem viver com raiva de si mesmo por  ter que carregar a própria história. Sempre que uma raiva esquenta, devemos consultá-la, pois o que a dispara nem sempre é o que a gerou. Muitas vezes um evento acontece na nossa vida e reagimos à ele com a raiva de eventos anteriores nunca esquecidos.
       Depois de olhar bem para elas, algo deve ser feito. Algumas precisam de um descanso, de um perdão real, o que inclui não se pensar mais nisso. Outras precisam ser mais bem trabalhadas, precisam de ações da nossa parte.
       Existem momentos em que precisamos agir com a raiva, mas esses são raros. Quando for hora de usá-la, ela vai se mostrar útil, não precisamos ficar cultivando, alimentando, fortificando  para essa tal hora. Se fazemos isso, temos que fortificar também a jaula interna para guardá-la, e isso é muito penoso. A raiva é mais um termômetro do que uma ferramenta. É como uma febre, um aviso de que algo vai mal.
       Geralmente nos irritamos quando somos incapazes de reagir de outra forma, quando as outra saídas se esgotam. É uma grande sensação de incapacidade, a raiva. Incapacidade de lidar, de aceitar, de compreender. De quê adianta, então, se entregar à cegueira de Sekhmet, depredar o mundo, magoar os coleguinhas, invocar raios e trovões e depois, mais calma, culpar a raiva megera pela devastação deixada? Ela vem como um alerta, devemos deixar que sente se conosco. Mas permitir que ela encarne o nosso corpo inteiro, é perigoso. É uma ótima conselheira, mas dirige muito mal.
       Depois de embebedada, Sekhmet retorna sob o aspecto de Hathor, Deusa solar da Alegria e da paixão. Assim como sentimos o calor da raiva e do amor no mesmo lugar no corpo, é a mesma Deusa que representa estas emoções duais. As duas faces da mesma Deusa nos lembra que é responsabilidade nossa controlar o dial do nosso estado de humor. Não que devamos estar sempre de bem com a vida, pois para isso teremos que mentir para nós mesmas boa parte do tempo, mas temos a opção de deixar Sekhmet seguir seu caminho com fluidez e respeito, sem tanto apego à Deusa raivosa, que passa uma falsa impressão de segurança. Desta forma, as emoções se tornam o tempero da nossa vida e não o alimento único.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Quero ser mulher!

       Que vontade de ser Mulher!
       E mexer os quadris como bem quero, ser das vísceras, do choro.
       Quando Bem entender me recolho, rosno. Depois saio descabelada e sorridente, como se nunca estivesse estado sombria.
       Quando eu deixar de ser menina, vou ser Mulher, ta decidido!
       Por enquanto treino, vou aprendendo. Tem sementes dentro de mim.
       Quando virar Mulher, minhas garras vão estar fortes, não deixarão escapar nada que decidam pegar. Meus olhos alcançarão o depois de amanhã, estarei várias jogadas à frente...
       Já sinto meus ouvidos se transformando. Ouvido de Mulher é meio moco pra fora, absoluto pra dentro.
       Ah! Se eu pudesse, seria mulher agora, mas não posso pular etapas. Tem que esperar os pêlos crescerem, para não precisar procurar calor em outro lugar. Buscar o calor do outro por puro tesão, vontade. Não por necessidade ou questão de sobrevivência. Por isso é preciso garantir uma pelagem saudável e auto protetora.  
       E é preciso treinar o Urro. As Mulheres têm um “não sei o quê” que as colocam em situações onde um bom Urro é fundamental para que alguns limites sejam entendidos.
       As meninas não são donas de seus cios. Pouco decidem, exigem, procuram. Confundem seus cios com amor e paixão, não sabem respeitar seu corpo, seu desejo imperativo. Muitas não sabem se amar sozinhas.
       Quero, cada vez mais, me tornar Mulher, não quero parar nunca!
       Mais pêlos, garras, urros! Vir a ser mulher é constante pra quem busca. Tem que ser trabalhado, tecido, desadestrado.
       Mas também vem de surpresa. Por vezes me pego assustadoramente fêmea, e o mundo que se segure.
      Minha risada fica rebelde, insiste em alcançar os ouvidos dos incomodados. Eu danço no ritmo do universo, falo sua língua. Meu útero imita a lua. Genuína loba.
       Mas, infelizmente, não sou mulher toda hora. Fico aí, esperando a próxima ordem, querendo salvar não sei quem, deixando meus trabalhos não sei onde...
       Às vezes olho pra cima e, como boa menina mimada, praguejo! Culpo! Esqueço que a Deusa está dentro de mim. É útil esquecer as lições que tantas vezes tomamos.
       O lugar de menina é confortável, nos tira várias responsabilidades e sempre vai ter alguém para ter dó da “vítima”.
       Mas cansa. Acabamos por  ter o ímpeto de arregaçar as mangas e gritar: “Quero ser Mulher!”

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Inkubus Sukkubus- Wytches Chant

Religare



- Como a religião interfere nas suas decisões pessoais?

As religiões buscam explicar as questões humanas mais profundas, como nossa finitude, a presença ou não de alma, de onde viemos e para onde vamos, se existe e como é o Ser Superior... Além de, geralmente, vir acompanhada de uma filosofia que norteia nossos valores. Desta forma, o pensamento religioso afeta minha vida em basicamente tudo que esteja ligado às questões existenciais e morais, permeando minhas condutas nas horas de crise, na minha relação com o próximo, na relação comigo, e na minha postura geral diante da vida.

- O que é o conceito de Deus pra você?

Acredito que Deus seja infinitamente maior do que minha capacidade de conceituar. Do meu ponto de vista, esta força é mais fácil de ser sentida do que pensada. No entanto, como nunca estamos separados do simbólico, tenderemos sempre a conceituar Deus de acordo com nossa crença particular, nossa história, cultura, etc. No meu caso, chamo essa força criadora de Deusa, não por atribuir genitálias à divindade, mas por acreditar que a Mãe é o símbolo melhor para representar uma força geradora, que ampara mas ensina. Para mim esta força se comunica conosco por via direta, está sempre de dentro pra fora, não vem de cima. A "palavra de Deus" pra mim é o próprio fenômeno da realidade que, se não servisse pra nos ensinar, não insistiria em seguir certos padrões e repetir algumas lições até que aprendamos... A natureza é minha "bíblia", meu templo, de onde tiro ensinamentos valiosos e para onde vou quando preciso de paz e comunhão.

- O que você pensa sobre a relação Deus e Igreja?

         Deus não precisa de Igreja, é uma necessidade humana. Ao meu ver, estas instituições mais afastam do que aproximam as pessoas de Deus, por retirarem-lhes a autonomia da busca espiritual, hierarquizar o contato com o divino, privilegiar "escolhidos" entre outras questões. Se as idiossincrasias não forem respeitadas, o templo corre o risco de se tornar mais um lugar de padronização moral do que de busca espiritual.

- Você optou por essa religião sozinho ou tem influencia da sua família?

Minha espiritualidade sempre foi cultivada pela minha avó, mas minha escolha religiosa é totalmente separada da minha família.

- Pra você, o que é ser uma pessoa espiritualizada?

É um comprometimento com a evolução pessoal, que resulta em uma incrível capacidade de atuar no aqui-e-agora. São pessoas que conseguem estar espiritualmente presentes no que fazem, que se dão para a existência. A pessoa espiritualizada integra sua criança interior, seu adulto e seu ancião, tem a favor de si todos seus sentidos. São pessoas conectadas com o todo, que celebram os gozos do mundo, mas que sentem a dor do outro como sua.

- Você acha que o ser humano tem a necessidade de ter fé em alguma crença?

No âmbito religioso, tratamos da parte do conhecimento humano que não se pode provar. Ninguém sabe o que vem após a morte e, no entanto, quase todos têm uma opinião formada sobre o que deve ocorrer. Como nunca foi provado nada acerca do além morte, tudo que se fala sobre isso é crença, seja acreditando que haverá algo, seja acreditando que acaba tudo. Na verdade, a maior parte do conhecimento de um indivíduo é baseado na crença pois, sem comprovação direta, só podemos crer no que é dito por terceiros. Crer, então, é mais uma condição do que uma necessidade. A questão é: para onde guiamos nossas crenças? somos felizes com isso? acreditamos mesmo nisso, ou nos enganamos para nos enquadrar em algo? Temos que, constantemente, reavaliar o que cremos. Acreditar e ter fé não é ser cego. Temos que analisar criticamente, e sempre sintonizar a fé com o que sentimos. Como mulher, por exemplo, precisei de uma fé que respeitasse meus ciclos, meus cios, minha futura anciã que cultivo com experiências... pois essa é a sintonia entre o que sou e o que acredito. À muitas pessoas são impostas crenças que vão contra suas verdades íntimas, o que eu considero um estupro à subjetividade, inserindo culpas e contradições no lugar de harmonia.

- A bíblia cristã criou alguns conceitos como pecado, céu e inferno... Qual sua opinião sobre essas explicações?

Sem esses conceitos, o sistema cristão não funcionaria. Na psicologia chamamos de reforço positivo e reforço negativo. É como, num labirinto, dar choque em um lugar e botar um docinho em outro. Tudo isso é feito no sentido de se controlar um comportamento.
Se é colocado que em um lugar está Todo o bem e toda a salvação e em outro está todo mal e toda danação, fica engraçado falar de livre arbítrio pois, Quem quer ir pro inferno? Então eles te dão uma fórmula para não ir para o inferno, que é um guia de comportamento.
Eu acredito em uma realidade muito mais complexa do que esta dividida em dicotomias e vejo relatividade em todo ato humano, não podendo dizer quais atos levariam à uma danação. Pra mim esta suposta "punição", que acredito que minha Deusa faz várias vezes, ela o faz em vida, principalmente quando está de mal humor. Mas não é inferno. É inverno, que testa a gente, é duro de atravessar, mas precede a primavera. É beliscão de mãe, que às vezes faz a gente levantar e fazer o que ela está mandando, e é pro nosso bem, mas estamos com preguiça.

- Qual sua opinião sobre as outras religiões existentes, além da sua?

São pontos de vista, peças de uma mesma coisa. como paisagens, continentes. Devem ser vistas como fontes de sabedoria humana acerca do divino, mas limitadas pelo próprio horizonte de seu ângulo. Estes pontos de vistas deveriam integrar-se para fazer sentido, e não ter conflitos entre si. É como se, na pergunta O que é o Mundo? Os esquimós brigassem com os africanos em defesa de sua tese de "mundo".

- Você acredita que o preconceito religioso é um problema da nossa sociedade? Já sofreu ou conhece alguém que sofreu esse tipo de preconceito?

Com certeza! Tudo anterior à Santa inquisição é tido como primitivo ou tolo.Toda forma religiosa que foge do formato vigente sofre preconceito.

- Você acha que há diferenças entre os termos religião e religiosidades? Quais?

Sim. A religião é a instituição, com seu sistema fixo de valores. Religiosidade é a relação que temos com a religião, que varia para cada individuo.

*Entrevista que respondi à alunos do SIGMA

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Inanna


A Deusa mais celebrada na antiga Suméria, foi Inanna.
       Assim como Perséfone, Dea e Psique, essa Deusa viveu a saga que é vivida por várias de nós: a decida ao submundo.
       Grande Mãe dos Mistérios da vida,  Inanna  desce os sete portões, se despindo do que era seu, para encontrar Ereshkigal, sua irmã, Rainha do Submundo, terrível e implacável.
       O mito de Inanna se passa na nossa vida por diversas fases. Trata-se de um dos processos mais enriquecedores da nossa alma. E um dos mais dolorosos também, por se tratar da nossa morte.
       Saímos de um aspecto de  quem conhece a vida e o júbilo para conhecermos, intencionalmente ou não, o mundo dos mortos.
       E para isso morremos.
       Lidar com a morte é uma iniciação de altíssimo grau, que confere nível sacerdotal ao iniciado. Os Xamãs precisavam conviver com mortos e praticar diversos exercícios da própria morte para se iniciarem.
       Para descermos ao mundo dos mortos, muita coisa do mundo dos vivos deve ser abandonada. Muita coisa fica pra trás no caminho. Outras devem morrer. É etapa importante da descida aprender a deixar morrer, a dar um fim. A medida que descemos, nos despimos de muita coisa que acreditávamos ser nossa.
       Essa morte pode ser psiquica, pode se tratar de hábitos, de pessoas. É a necessidade de um outono na nossa vida, pra retirar as folhas mortas. Uma faxina geral no quarto, que muitas vezes bota a gente em contato com aquele velho lixo embaixo do tapete, que está pior do que da última vez que o vimos...
       Encará-la é o mais difícil, porém necessário. Quando vemos Ereshkigal, vemos tudo aquilo que não queríamos ver,mas que é nosso. É nossa Sombra. Nossa Senhora Sombra.
       Será que aquela mentirinha que a gente se conta, vai ficar por isso mesmo? E as enormes e cabeludas, não vão querer chamar nenhuma atenção?
       Inanna conhece a Morte.  Seu corpo vira carcaça. Mas compartilha o conhecimento de vida com sua irmã, auxiliando-a a dar a luz, e lhe é concedido o Renascimento.
       A Deusa não é mais a mesma que era antes da descida. De certa forma, a vida e a morte fazem parte de tudo, mas o renascimento é um conhecimento privilegiado.
       O conhecimento de renascer nos deixa mais seguras inclusive para as mortes vindouras. Nos dá força, amadurece. Passamos a dar valor a outras coisas, nos apoiar em outros pilares, e até pra nos tirar do sério fica mais difícil. Tanto a Inanna Deusa da Vida, quanto a Inanna habitante do mundo dos mortos, vivem em extremos de ingenuidade e dor. Luz e Sombra. Consciente e Inconsciente. Mas a Inanna renascida não  pertence a extremo algum e engloba ambos. 


"Fui até lá
Por minha própria vontade
Fui até lá
Em minhas mais finas vestes
Com minhas jóias mais preciosas
E minha coroa de Rainha dos Céus.
No submundo
Em cada um dos sete portões 
Fui despida,sete vezes
De tudo que eu pensava ser
Até que permaneci descoberta
Ao que realmente sou
E então, eu A vi
Imensa, Negra, Fétida, Peluda
Com uma cabeça de leão
E garras de leão
Devorando tudo à sua frente
Ereshkigal, minha irmã
Ela era tudo o que Eu não sou
Tudo o que escondi
Tudo o que enterrei
Tudo o que neguei.
Ereshkigal, minha irmã
Ereshkigal, minha sombra
Ereshkigal eu mesma."  




A Excomunhão da Vítima

 

I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão...
Miguezim de Princesa

Meu Caminho

Magia é fascinante. Quando me encantei foi pelo oculto, pelo mistério. Havia também muito respeito pelo arquétipo do bruxo, que é figura poderosa.
       Entrei no mundo da bruxaria por imitação, como muita gente faz. Tínhamos um grupo de estudo que funcionava meio “Capitão Planeta”: cada um era parte fundamental de um círculo que, quando unido, tinha muito poder. Nossa intenção era praticar nossa curiosidade livre, ver 
 entre as frestas do oculto.

       Era delicioso, assustador, instigante.

       Assim eu conheci a Wicca. É recomendado estudar um ano e um dia para se iniciar, mas eu estudei muito mais do que isso.Meu grupo foi ficando cada vez menor, no dia da iniciação sobrou um casal de amigos, que se iniciariam também. À essa altura, minha visão da magia já tinha mudado bastante. A celebração à Deusa já era meu principal intuito.

       Então fomos, meus amigos e eu, para a chácara que faríamos o ritual, foi quando recebi a primeira lição da Deusa: os rituais só servem pra nós, não pra ela.

       Meus dois amigos foram comprar as coisas necessárias, e eu fiquei preparando o altar.

       Ali minha iniciação aconteceu. Sozinha.

       Enquanto eu arrumava tudo, no espaço da natureza, fui invadida por uma onda de amor tão puro, sem objeto, sem fronteira. Perdi o que eu chamo de “eu” nesse estado. Entrei no não-tempo, não-espaço.

       Deve ter durado segundos, mas mudou minha vida, e é o que eu chamo de “Chamado da Deusa” na minha história. Não dá pra não querer repetir esta sensação em larga escala. E na lua cheia é dessa sensação que eu me lembro.

       Foi nesse dia também que decidi ser bruxa Eremita (não gosto do termo solitária) meus amigos voltaram cansados, não houve ritual. E depois eu nunca procurei um Coven, não sei se me acostumaria com outro grupo. E eu me pergunto. Será que se tivesse ritual, eu teria me iniciado?

 Como os estudos de uma bruxa nunca terminam, segui estudando. Abandonei a Wicca, mas mantenho algumas celebrações, como a roda do ano e os Esbbats. A minha forma de usar magia quase volta aos tempos da alquimia. Gosto muito da física quântica, por haver harmonia entre  os pensamentos religioso, filosófico e científico. Amo os estudos dos submundos da mente, seus arquétipos e sombras. Acredito que a  lapidação própria é o dever de todo bruxo, independente da linha. Mas, raras vezes, uso a magia para algum fim específico, que não seja no dia-a-dia, por temer não estar atenta a todas as conseqüências de uma ação manipulada.  

       Não acredito em cor de magia, do tipo “branca” ou “negra”. Primeiro por dar conotações de valor às cores que nada têm a ver com nossos juízos. Segundo, por não acreditar que algum ser humano consiga estar puro a ponto de emanar energia “branca” e outro com a pureza inversa, emanando somente energia “negra”. As nossas vibrações são muito sutis, e são umas das variáveis mais difíceis de controlar na magia.

       Acredito muito no poder da nomenclatura. E dividir magia por cor, Magia Negra, Branca ou cinza, primeiro, só limita nosso conhecimento e, segundo, daqui a pouco temos a Magia Faber-Castel. Além do que, só quer esconder valores do tipo: “ eu sou bonzinho” ou “tenha medo de mim, eu sou do mal!”...

       Posso dizer que o meu aqui e agora é uma tentativa de aliar “o que eu quero, o que eu penso e o que eu faço” e buscar onde minhas antepassadas esconderam seus conhecimentos, para que eu beba da mesma fonte.