segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Aviso da lua que Menstrua

''Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com essa gente que menstrua

Imagine uma cachoeira ás avessas:

cada ato que faz, o corpo confessa
Cuidado, moço...

ás vezes parece erva, parece hera

cuidado com essa gente que gera

essa gente que se metamorfoseia

metade legível

metade sereia

barriga cresce
explode humanidades

e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar

mas é outro lugar que aí está

cada palavra dita,

antes de dizer, homem

refilta

sua boca maldita não sabe
que cada palavra é ingrediente

que vai cair no mesmo planeta panela..
cuidado com cada letra que manda para ela

tá acostumada a viver por dentro
transforma fato em elemento

e tudo refoga, ferve e frita
cuidado moço, cê pensa que escapou?

Aí é que chegou sua vez..

sou sua amiga e conheço cada uma das feras

além de ser uma delas
Você que saiu da fresta de uma delas
Delicada força quando voltar a ela.

não vá sem ser convidado

ou sem os devidos cortejos..

(ás vezes pela ponte de um beijo)

Cuidado moço, por ter uma cobra entre as pernas

cai na contradição de ser displicente

diante da própria serpente

Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
esquece de morder devagar

curtir, dividir...

E aí quando quer agredir chama de vaca e galinha

ora não ofende, enaltece, elogia...

Pensando que está agredindo,

que está falando palavrão imundo

Tá não, homem...

tá é citando o princípio do mundo"

Elisa Lucinda

Dead Can Dance - Song of the Stars

Com o quê você se identifica?

       Todos nós temos que carregar carteira de identidade, com foto e número de série. Mas o que somos, é muito além das nossas digitais. Se você fosse um bicho, qual bicho seria? Se fosse um cheiro, qual seria? Por onde suas trilhas te levariam?
       Acontece que essa imaginação não é só um faz de conta, fala muito do que somos, nos ajuda a nos conhecer melhor. A grande magia da mente é tornar imagem em ação.
       Qual a diferença da pessoa que se identifica com a presa para a que se identifica com o predador? A tua paisagem, é de calmaria, solidão ou é agitada e tempestuosa?
       A minha paisagem seria o cerrado! Um animal que não pertença a esse sistema não o penetra, devido sua densidade. Ontem fui chamada de complexa. Imagino então um Eu cerrado, com todas as suas árvores juntinhas e retorcidas, matos pontiagudos, seco/molhado/seco/molhado, e seus impenetráveis mundos. Impenetráveis para os não-calangos, os não-micos, não-lobos.
      Gosto da diversidade de sistemas que a mãe oferece, acredito que podemos nos identificar com qualquer um. Há quem não goste da complexidade do cerrado e prefira algo mais bucólico, como o campo, ou para quem busca uma simplicidade ainda maior do Eu e se identifique com o Ártico, ou com um melancólico pôr do sol...
       Mas convém evitar se identificar com a floresta devastada, depredada, incendiada. Simples, sim, mas simplório, vítima e pobre de qualidades não é o tipo de paisagem que ninguém deveria mostrar pra Deusa.
       O legal de se identificar com alguma coisa, é que você sempre poderá invocá-la na hora dos problemas.O animal que eu mais gosto é o Tigre Branco e tenho várias imagens mentais dele para todo momento que eu preciso de astúcia e imponência. Mas me lembro também de que ele, como eu, é muito arredio e prefere a solidão. Quando me pego assim, dou uma “bronca” no meu Tigre interno e volto ao mundo social.
      Se eu preciso dar uma melhorada na minha auto-estima, quem entra em cena é minha flor, a Tulipa Vermelha. É quando trago à tona minhas qualidades de delicadeza forte, minha sensualidade, meu alto valor. E lembro a todos que meu cultivo não é fácil, e que não se encontra em qualquer lugar e clima, flores como eu...
       Mas existem pontos muito fracos... Me pareço muito com uma pinha. Quem vê de longe, acredita que é uma fruta de casca muito dura, que haverá muita resistência em se abrir. Mas nada que um leve aperto não a  esbagace toda... Além do quê, é bem carocenta, haja paciência pra comer.
       O maior ganho é se conhecer. Somos contraditórios e, por mais que busquemos a simplicidade, somos seres complexos. Tudo que nos aproxima de nós mesmos, nos auxilia a saber agir no mundo. Faça um teste. Escreva uma lista de coisas com as quais você se identifica, as primeiras que vierem na sua cabeça. Depois conheça mais sobre essas coisas e trace um paralelo entre elas e você. Verá que “sua cabeça” sabe mais sobre você do que você mesmo.
       

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pale Blue dot- Legendado


Forever Green - Tom Jobim

Forever Green

Tom Jobim

Let there be flowers
Let there be spring
We have few hours to save our dream
Let there be light
Let the bird sing
Let the forest be forever green
Little blue planet
In great need of care
Crystal clear streams
Lots of clean air
Let's save the Earth
What a wonderful thing
Let it be forever green
Imagine Mother Earth become a desert
A poison sea, a venomous lagoon
And life on Planet Earth be gone forever
And God will come and ask for planet blue
What to do
Where is the paradise
I've made for you
Where is the green
And where is the blue
Where is the house
I've made for you
Where is the forest and
Where is the sea
Where is the place good for you, good for me
Let's save the Earth
What a wonderful thing
Let the bird fly, let the bird sing
(Let them sing Luisa)
Let it be forever evergreen
Where is the paradise
I've made for you
Where is the green
And where is the blue
Where is the house
I've made for you

Campanha para um Melhor Humor da Deusa


       Como conseguimos ser anti-naturais se tudo que está no “little blue planet” à ele pertence? Que mecanismos nos levaram a nos tornar cada vez mais sintéticos e tóxicos, cada vez mais intragáveis para o planeta?
       Gaia, organismo vivo, com inteligência e equilíbrio, desconhece lixo, resto, desperdício. E nós, não sei se por uma necessidade de projeção, precisamos criar lixo.
       Interrompemos um ciclo tão óbvio. Pois a Grande Mãe tem planos para o que consideramos dejeto, morto, resto. Ela sabe reciclar, dar nova vida.
       Nos alimentamos com voracidade de toda variedade de seus alimentos.Inventamos o luxo escravizando-a. Fomos buscar o petróleo enterrado que a Deusa escondeu, como uma mãe esconde veneno de criança.
       Mas nada entregamos. Nem à ela voltamos, visto que nosso corpo, no lugar de alimentá-la, é embalado por um caixão de madeira.
       Virar adubo. Comida de planta e outras espécies. Muitas pessoas preferem ser misturadas à formol e plástico e virar lixo a virar adubo... Aliás, o que fazemos com o que é orgânico? Entulhamos em um monte de plástico que a mãe não digere! Há quem ache que casca de banana e embalagem de salgadinho são a mesma coisa: lixo. A casca de banana é alimento de uma galera, que vai ser alimento de uma galera, que vai ser...
Lixo é esse saquinho, que vai ficar entulhando, indigesto, por gerações...
       Sendo assim, compreendo que a Deusa não esteja muito contente. Os ciclos, que antes eram naturais, para nós estão descompensados! Ela está uma Fera, e há quem saiba que não é sua face mais fácil. Sentimos na pele, seja por eventos climáticos, astrológicos, subjetivos, coletivos... Por isso proponho uma Campanha para um Melhor Humor da Deusa. Algo que cada um faz por si.
       A situação ecológica do nosso planeta está muito complicada e todos nós já nascemos condicionados a vários hábitos prejudiciais à Mãe. Quando partimos para uma atitude de mais responsabilidade ambiental, muitas vezes nos deparamos com a diversidade de erros que cometemos e podemos entrar em depressão!! Mas acredito que não podemos carregar (infelizmente)  o mundo nas costas e não podemos nos culpar por tantos séculos de cultura “vampira”. Vamos celebrar a mãe, voltar a uivar nas luas cheias, ter o cuidado com Gaia que for possível. Desta forma, ela sabe que não foi esquecida, seu canto reviverá eternamente em nós!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Lila Downs

Zetgeist

 

Pra quem ainda não viu, é um vídeo poderoso, chocante, esclarecedor... Vale a pena.

Sou bruxa! E lá vamos nós!


       Acredito que a magia é o uso de um estado alterado da mente que afeta a realidade. Qualquer um é capaz de fazer e, com o treino, ser mais enfático e preciso.
       Mesmo sem sabê-lo, as pessoas fazem magia a toda hora. Quando nos apaixonamos, quando topamos com o mindinho de manhã e estragamos o resto do dia por isso (até de outras pessoas), com inveja... Com isso não quero dizer que a humanidade é bruxa, mas que é mágica e pratica magia.
       As mulheres tem sido oráculo da sociedade desde os primórdios. Obtiveram naturalmente os conhecimentos sagrados da vida-morte-vida e se tornaram as parteiras, curandeiras, videntes, mães... É por isso que acredito que uma mulher só precisa fechar os olhos pra ser bruxa. Entenda fechar os olhos por deixar-se fluir, soltar-se das amarras que a prendem, do que o outro quer dela... A magia da cozinha, a medicina das ervas, os segredos do sexo, os bons conselhos aos amigos, as pragas bem jogadas.
       O que então, as bruxas têm de diferente das outras pessoas?
       São pessoas que estão cientes destes processos de energia e tomam suas devidas precauções ou fazem suas desejadas manipulações.
       Chakra, Aura, amarração para o amor, vodoo, tarot, simpatia, astrologia, macumba, amuletos, sabbats... Um vasto leque se abre para os conhecimentos ocultos. Cada qual com suas crenças.
       Sou do tipo que respeita a fé do outro, contanto que esta fé não seja usada para fuga dos próprios problemas ou como meio de poder, status, ou salvação em detrimento de outros. Já fui queimada na fogueira, já disse que o rei estava nu, já fui no submundo e voltei... Pra mim já chega desse papo de “respeitar” quem prefere manter certos poderosos ricos em nome da fé.
        Minha magia consiste em tentar me comunicar com Gaia e entender seus fenômenos e me deliciar com os mesmos.Celebrar a lua, buscar a mãe selvagem, seguir certos “ideais”, acreditar mais em nós humanos fazem parte do meu trabalho de bruxa.
       Algumas pessoas entram na bruxaria e ficam presas demais às técnicas. Não que eu seja contra. Tenho, inclusive, minhas cerimônias. As técnicas te ajudam a atingir metas, te ajudam a concentrar sua vontade, reunir energia para um fim. Mas existe um outro tipo de magia, que está mais guiada para a magia que acontece acima de nós, abaixo de nós, dentro de nós... Quando se trata deste tipo de magia, qualquer ritual mecânico é inútil, não há verdades pré fabricadas e vai ser exigido muito mais de você do que decoreba. São as grandes iniciações da vida: lidar com a morte e deixar morrer, aprender a não ter solidão e sim solitude, saber quando usar a raiva e quando se acalmar, conseguir amar sem depender, aprender a ter paciência...Esse é o legado dos grandes Deuses e suas sagas.
          Saber de inúmeros rituais, nomes de cor, datas... e não saber o que pedir pra estrela cadente, não saber quando dizer chega, quando pedir por favor, porque estar aqui e agora...tiram de uma bruxa/mulher uma boa parcela de seu poder.  A imagem da guerreira interna é mais importante de ser cultuada, na minha opinião, do que qualquer imagem de outra Deusa e o auto-cultivo (que é tudo, menos fácil) nunca deve ser abandonado.